Ritual DIY: Ficção e Ruidocracia
3/4/16




Falar de sobrevivência necessariamente passa pela questão indígena. Como diz Eduardo Viveiros de Castro, os povos indígenas são mestres em sobrevivência, já que seus mundos vêm sendo exterminados desde a chegada das caravelas.

A pergunta aqui é: quem sobrevive com os índios e quem sobrevive aos índios? Por que o tecnoxamanismo se interessa em acionar o “devir-índio” e que implicações isso tem?

A ideia de tecnologia e desenvolvimento a qualquer custo tem trazido uma série de consequências ambientais, produzindo catástrofes, dizimando comunidades, interrompendo fluxos de rios.

Nos interessa discutir nesse encontro temas relativos a Chernobyl, Fukushima, Lama de Mariana e seus sobreviventes. Como diz Svetlana Alexievich em seu livro Vozes de Chernobyl, “a paisagem de Chernobyl depois do acidente nuclear, se tornou uma imagem do futuro, não do passado”.

A virada da época geológica holoceno para antropoceno tem servido como palco para muitas inquietações políticas, sociais, ecológicas, subjetivas, científicas. A iminência de uma grande catástrofe avassaladora, ou o término lento do mundo que conhecíamos tem levantado vários movimentos de transformação, anti-antropocêntricos, que desejam abrir o pensamento, acionar outros devires, ampliar o espectro, fortalecer o imaginário para criar novos futuros. Isso faz com que muitos de nós nos juntemos de alguma forma aos “sobreviventes” dos mundos destruídos, para aprendermos com eles sobre sobrevivência, enquanto inventamos outras formas de existência, conectando o futuro e a ancestralidade.

O tecnoxamanismo é um movimento que vai nessa direção, de abrir canais de comunicação ancestrofuturistas, fazendo cosmogonias livres, rituais faça-você-mesmo, enquanto desenvolve tecnologias mais ecológicas, menos nocivas, menos destruidoras. Tudo isso exige muito trabalho de sonhos, imaginário, percepção e ações práticas, tecnológicas, eletrônicas e hackers.

É por isso que o tecnoxamanismo ao invés de exercer só um ativismo crítico-racionalista aposta mais incisivamente nas cartas da ficção, hiperstição, incorporação, subjetivação, inconscientização, para colocar em movimento nossa existência cósmica, tão enfraquecida nos dias de hoje, e geralmente cooptada por sistemas de dominação e controle.

Esses e outros temas serão debatidos durante a programação do Encontro de Tecnoxamanismo no deCurators, que culmirá num Ritual (Do It Yourself) ou num levante para uma “Cosmogonia Livre”!

Fabiane Borges