Manoela Morgado e Mariana Destro: Consolo
15/12/18—4/1/19




Aporte do desejo na passagem do tempo (percurso do prazer):
estou aprendendo a esticar o meu desejo

Eu tô fazendo um jogo comigo: Toda vez que eu tenho vontade de alguma coisa eu espero um pouco, e quanto mais a minha vontade aumenta, mais eu demoro pra fazer. Eu tô testando os limites do meu desejo. Esticando pra ver até onde ele aguenta ir. Como se esticando o meu desejo ele escoasse e assim se tornasse mais um dois ou três, prolongando-se o máximo possível ele cobriria todas as áreas que me fazem falta. Porque se eu realizar esse desejo agora eu não terei o depois. Como se o corpo do desejo levantasse os braços abrisse a palma das mãos e com a ponta dos dedos tocasse o amanhã e me garantisse um desejo a mais, um desejo amanhã também. A lentidão que preenche o meu desejo é a carne que o sustenta. Boa e ruim porque calcifica a demora. É também a tentativa de preservar uma unidade porque de repente um desejo só não funciona separado, como se a potência da vontade só fosse de fato verdade se eu pudesse juntar muitos e muitos e muitos desejos. Porque eu não sei o que fazer com o que já não é mais meu. Os desejos limítrofes. Os desejos que se prolongam, qual a fronteira que os cercam? Onde fica a extremidade do desejo? Eu começo pelo fim?

Eu tô fazendo esse jogo comigo. Já tem mais ou menos cento e cinquenta e sete dias que estou aprendendo a esticar o meu desejo. Na verdade, não importa a grossura do desejo, mas de qual membrana permeável é feita o meu desejo? 

O jogo pelo jogo. E é nessa satisfação que ele prevalece? É na competição? É possível vencer? Um saldo positivo, a reafirmação? Me sinto bem na minha autossuficiência? Busco autonomia? E você? O que você deseja? Qual seu desejo? Desejo pressupõe dois? Eu e meu desejo contamos como dois? O que eu quero? O que você quer? Ou então... O que nós queremos?

Manoela Morgado