Clarice Gonçalves: Processos do desejo à obra corpo-pintura
curadoria de Sissa de Assis
15/9—24/9/21
“– O que desejo? Voar para longe do dia e da noite, e chegar onde… não haja mais separações… e os olhos encontrem… , e…”
(Virgínia Woolf, Entre os atos, pág. 87).
(Virgínia Woolf, Entre os atos, pág. 87).
Nesta proposta expositiva pouse o olhar nas dobras das obras em processo da experiência sinestésica entre a ação performática, na dança no corpo, na tonalidade musical e, por extensão, recortadas na pintura e transformada em transmaterialidades — as quais registram na instância formal a exigência dos atos serem matéria transformada.
Começaremos pelos reencontros do desejo da poética artística na passagem entre as três obras que compõe esta exposição, nelas encontramos o desejo da continuidade que a artista apresenta durante o ato I que se reencontra com o ato II e se materializa no ato III. Tal passagem contínua do processo da artista entre os atos-obras detona formas do erotismo de Bataille, sendo “o erotismo dos corpos; o erotismo dos corações e, enfim, o erotismo sagrado (…) o que está sempre em questão é a substituição do isolamento do ser, a substituição de sua descontinuidade, por um sentimento de continuidade profunda” (BATAILLE, 2004, pág. 26).
Aqui estão presentes as formas de romper o isolamento de desejos contidos no “entre-fazer” da obra artística total, dividida nesses três atos de composições que você irá acompanhar. Existir dentro do processo na construção da tríade de obras é mais uma proposta de Clarice Gonçalves, a qual se desenvolverá como um organismo vivo nos atos a seguir:
Ato I – Partitura performática: provocações e projeções imagéticas em performance musical pictórica.
Ato II – Pintura ao vivo: o processo de pintura ao vivo é a obra. A artista presente é início, meio e fim da obra em processo. É objeto e elemento da pintura que será gerida durante o tempo instantâneo do olhar transado do/da transeunte e dos/das observadores/as da galeria à rua, da vitrine à tela do computador.
Ato III – Materializações: fixações do processo experimental das performances que se transmudarão em instalação na vitrine do deCurators, na qual se exibirão os rastros da presencialidade das performances ao vivo com nova apresentação à espacialidade do virtual do site do deCurators e com visitação presencial do público.
Clarice Gonçalves buscou na performance da dança a continuidade dos tipos de erotismo das formas pictóricas de suas pinturas de figura femininas. Tudo na performance de dança é pincelada em movimento, a tela que será apresentada é continuidade do mover corporal, apenas pausamos o processo que escolhe reverberar na materialidade os resultados da vida em movimento.
Nomeio esta exposição de experiência poética do desejo, grafito nas obras o próprio desejo. Caetano Veloso canta em Pecado Capital — o que completa este texto — a verdade que “a gente não sabe o lugar certo de colocar o desejo”, logo encontramos outra continuidade que habita em nós por onde perpassa sua poesia musical. Recomendo que aumente o som e toque esse texto:
“Todo beijo, todo medo
Todo corpo em movimento
Está cheio de inferno e céu
Todo santo, todo canto
Todo pranto, todo manto
Está cheio de inferno e céu”
Sissa de Assis
© Lucena